📰 Por Francisco Filho – Folha Serrana TV
📍 Sítio Baixa Grande, Iracema – CE
🌄 UM POVOADO QUE NASCEU DA LIBERDADE
No alto da serra, entre a neblina e o verde da caatinga serrana, está a Comunidade Quilombola dos Bastiões, em Iracema, no sertão do Ceará. Um lugar onde cada pedra, cada árvore e cada olhar carrega uma história de resistência, fé e identidade negra.
Segundo a tradição oral, os primeiros moradores foram três homens negros fugitivos da escravidão, vindos da Bahia, que encontraram abrigo nas serras de Iracema. Ali se estabeleceram e deram origem às famílias que formam, até hoje, o coração dessa comunidade.
Com o tempo, o local passou a ser chamado Serra dos Bastiões, nome que homenageia seus primeiros habitantes. Famílias como Sá, Jacob, Assis, Tomé e Rafael surgiram dessa linhagem, unindo sangue, cultura e memória.
🌾 VIDA SIMPLES, TRABALHO DURO E SABEDORIA POPULAR
A vida nos Bastiões segue o ritmo do campo. A agricultura de subsistência é o sustento de muitas famílias. O milho, o feijão e a fava são cultivados com as mãos calejadas de quem aprendeu o valor da terra e da chuva.
O sistema de “meia” ainda é comum: o dono da terra cede o roçado, e o trabalhador divide parte da colheita. Apesar da simplicidade, há orgulho em cada colheita, em cada roçado aberto na força do braço.
Além da agricultura, algumas mulheres mantêm viva a tradição do artesanato em tela, uma arte passada de geração em geração, que ajuda a complementar a renda e reforça o sentimento de pertencimento cultural.
🙏 FÉ, CULTURA E IDENTIDADE
A fé é um alicerce forte entre os quilombolas. A padroeira da comunidade é Nossa Senhora do Carmo, e as festas religiosas reúnem todos — católicos, evangélicos e praticantes das tradições afrodescendentes, como o antigo “Xangô”, que ainda ecoa nas memórias mais antigas.
No alto da serra, o Santo Cruzeiro é um ponto sagrado e turístico. Dali, se avista boa parte de Iracema. É um lugar de oração, de promessas e também de encontros. Logo abaixo, há uma bica d’água natural, onde as famílias costumam se reunir em dias quentes ou chuvosos.
As festas juninas, as novenas e as danças são momentos de união. A juventude participa com alegria, mantendo vivas as tradições de seus antepassados.
🧬 RECONHECIMENTO QUILOMBOLA
Após anos de luta e estudos sobre sua origem, a Serra dos Bastiões foi oficialmente reconhecida como comunidade quilombola pela Fundação Cultural Palmares, órgão vinculado ao Governo Federal.
Esse reconhecimento garante à comunidade acesso a políticas públicas específicas — como direito à terra, programas de apoio e valorização cultural.
Mas o caminho não foi fácil: muitos moradores enfrentaram disputas de terra, isolamento geográfico e falta de recursos básicos.
Mesmo assim, a luta nunca parou. Hoje, a palavra “quilombola” é motivo de orgulho para os moradores, que se veem como herdeiros da resistência e da liberdade.
🚜 DESAFIOS E ESPERANÇAS
O isolamento geográfico ainda é um desafio. As estradas são precárias e o transporte para a cidade de Iracema é caro.
Mesmo assim, há um sentimento coletivo de esperança e união.
As novas gerações buscam estudar, preservar a história e fortalecer a comunidade, conectando passado e futuro.
Com o apoio de projetos sociais, universidades e a própria Prefeitura de Iracema, cresce o movimento para registrar, valorizar e divulgar o patrimônio cultural e histórico dos Bastiões.
❤️ UM PATRIMÔNIO VIVO DO CEARÁ
A Comunidade Quilombola Bastiões é mais que um lugar — é um símbolo de resistência negra e de fé nordestina.
Entre as serras e o vento forte, a voz do passado ainda sussurra:
“Aqui é terra de gente livre, de raiz forte e coração valente.”
E o povo dos Bastiões segue escrevendo sua história, dia após dia, com orgulho, coragem e esperança.
🖋️ Texto: Francisco Filho
🎥 Produção: Folha Serrana TV – Um canal a serviço do povo!
📌 Quadro: Janela Nordestina
📞 Contato: (88) 9 9903-9782
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