Por Redação Folha Serrana Repórter: Francisco Filho
Atualizado em 19 de maio de 2025
Eles parecem bebês de verdade. Têm peso, textura e detalhes que imitam com perfeição a pele, o olhar e até as expressões de um recém-nascido. Os bebês reborn, bonecos hiper-realistas criados com técnicas artesanais minuciosas, conquistaram milhares de pessoas no Brasil e no mundo. Mas, além da arte e do colecionismo, há um fenômeno que chama a atenção de especialistas: pessoas que tratam esses bonecos como se fossem filhos de verdade.
O que são os bebês reborn?
Os bebês reborn surgiram na década de 1990 nos Estados Unidos e, desde então, ganharam espaço em diversos países. Produzidos em silicone ou vinil, eles são pintados à mão, com aplicação de cílios, cabelos implantados fio a fio, cheirinho de talco e até mecanismos que simulam respiração ou batimentos cardíacos. O resultado é tão realista que, à distância, é difícil diferenciar um boneco de um bebê de verdade.
No Brasil, o mercado de reborns é aquecido e movimenta milhares de reais, com bonecos que podem custar de R$ 800 a mais de R$ 5 mil, dependendo da qualidade e personalização.
Por que algumas pessoas tratam como se fossem reais?
Entre os principais públicos estão colecionadores, artistas e, principalmente, mulheres que sofreram perdas gestacionais, depressão pós-parto, solidão ou transtornos emocionais. Para algumas, cuidar de um reborn — dando mamadeira, trocando fraldas, colocando para dormir — é uma forma de terapia emocional.
"Eu perdi minha filha no parto. Quando recebi meu primeiro reborn, foi como um consolo. Eu sabia que era um boneco, mas cuidar dele me ajudou a lidar com a dor", relata Maria Lúcia, 39 anos, do interior de São Paulo.
O que dizem os especialistas?
Psicólogos apontam que, em muitos casos, a interação com bebês reborn pode ter um efeito terapêutico, especialmente em quadros de luto, depressão ou demência em idosos. O ato de cuidar e dar atenção a um "bebê", mesmo que artificial, ativa áreas do cérebro ligadas ao afeto e à rotina, trazendo conforto emocional.
Por outro lado, quando essa relação se torna obsessiva ou substitui completamente as relações sociais e familiares, pode indicar um quadro mais grave, como transtorno dissociativo ou psicose.
"O risco está em quando a pessoa perde a noção da realidade e passa a negar que o boneco não é humano. Isso pode prejudicar suas interações sociais, sua saúde mental e até levar ao isolamento", explica a psicóloga clínica Dra. Renata Campos.
Um fenômeno nas redes sociais
Nas redes, vídeos de "mães reborn" são populares. Elas mostram o dia a dia com os bonecos, saem com eles na rua, compram roupas em lojas infantis e até organizam festinhas de aniversário. Há quem critique, há quem ache inofensivo. Para muitos, é apenas uma forma diferente de expressar carinho — e, principalmente, de preencher vazios emocionais.
Conclusão
Os bebês reborn escancaram algo que vai além de uma moda passageira. Eles tocam em questões profundas da psique humana, como o desejo de afeto, o instinto maternal e o enfrentamento da dor. Tratar bonecos como se fossem reais pode ser, para alguns, um caminho de cura. Mas exige cuidado, acompanhamento psicológico e limites claros para não se transformar em fuga da realidade.
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